Neste domingo, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como novo presidente do país em um pleito que, segundo especialistas, pode ser classificada como a mais polarizada da história recente do país. Se em 2014 já havia um racha entre petistas e antipetistas, agora há um abismo ideológico entre eleitores de Bolsonaro e de Fernando Haddad (PT).
Segundo o americano Scott Mainwaring, professor de Ciência Política da Universidade de Harvard e autor de diversos livros sobre democracia e partidos políticos na América Latina, há uma diferença fundamental no tipo de divisão que existia na última eleição para a que vemos hoje: o surgimento do ódio e da revolta.
"A polarização em si pode ser administrada. Mas a polarização com ódio ou a polarização com atores que não respeitam regras democráticas pode ser uma ameaça à democracia e a direitos fundamentais", disse ele em entrevista à BBC News Brasil.
'Mas como essa polarização evoluiu tão rapidamente para provocar brigas entre familiares, rompimento de amizades e até violência nas ruas? E quais os riscos dessa divisão para o próximo governo e a democracia?
Ao longo dos meses de campanha, tanto no primeiro quanto no segundo turno, o Brasil assistiu a um compartilhamento maciço de notícias falsas e boatos via WhatsApp, vivenciou discursos violentos contra oponentes por parte dos candidatos e até o esfaqueamento do líder nas pesquisas.
David Doyle, da Universidade de Oxford, afirma que os exemplos que a América Latina tem fornecido do que pode ocorrer após eleições tão polarizadas não são os melhores para a democracia.
Ele cita tanto a influência que a polarização teve nos golpes militares das décadas de 1960 e 1970 na América Latina quanto o impacto que a divisão da sociedade teve na ascensão mais recente de regimes de esquerda, como o chavismo, na Venezuela.
"Na Nicarágua, os sandinistas chegaram ao poder numa onda de polarização antissistema. Os chavistas chegaram ao poder na Venezuela em meio a uma polarização antissistema, com (Hugo) Chávez se apresentando como o candidato antissistema. Evo Morales, em menor medida, também chegou ao poder na Bolívia criticando as ineficiências e desigualdades das instituições existentes e num ambiente de polarização", exemplifica.
Ele explica que cenários de extrema divisão dificultam a governabilidade e estimulam a adoção de medidas autoritárias. Se o político já se elege com uma campanha que advoga por uma reforma radical das instituições, são maiores as chances de ele recorrer a mudanças que reduzam o poder de instituições democráticas (Judiciário, imprensa, Legislativo, por exemplo), diz Doyle.
"A dinâmica é muito simples. Uma vez que o governo alcança o poder, num ambiente de extrema polarização, os partidos não conseguem atuar em conjunto. Isso gera ineficiência legislativa e cria incentivos para o presidente se sobrepor ao Congresso, por meio de decretos, por exemplo", explica.
fonte:Agência de Notícias e BBC News